Dicas para estruturar seu currículo com experiências de vida.

Eu não sei você, mas eu acho currículo uma das palavras mais sem graça do mundo.

Além de parecer que pesa toneladas, currículo tem esse i que grita debochado da cara da gente, você já reparou? Cur-rí-cu-lo; a leta “i” bem aí, com um agudo que dói, bem depois do “erre”, que é quando ele ri, o cur-rí-cu-lo.

Ri das nossas competências, das nossas expertises, da nossa escolaridade e de qualquer coisa que a gente tenha feito na vida e que, na hora de escrever, de pôr os pingos nos “is”, nunca parece ter sido suficiente.

Provavelmente você já sentiu esse deboche, afinal, é só a gente começar a montar o tal currículo para gente se dar conta de que está faltando algo, de que a gente deveria ter feito uma outra coisa quando a gente fez isso daqui, ó, é o que tem pra hoje e, poxa, não é pouca coisa, só que sei lá, parece que não ter a ver, que não serve, o que eu fiz da minha vida?

Então, como é que fica? Como podemos driblar essa sensação de que a gente é de menos, quando não é verdade, quando a gente se esforça todos os dias para fazer acontecer?

Como criar um currículo de sucesso, dizer da nossa vida, das nossas experiências? Será que a gente consegue fazer um currículo cheio de graça?

Vamos de papo reto, papo sério.

O que é um currículo?

Curriculum vitae é vida. E durante a vida, nós acumulamos experiências, muitas. Só que às vezes a gente nem percebe que parte destas experiências fazem muito sentido para estarem inseridas no nosso currículo profissional, provocando esta sensação de que nos falta tudo e mais um pouco quando não é verdade.

Como montar um currículo?

Mas como escolher nossas experiências para preencher nosso currículo? Existe espaço para isso?

Segue o fio. Primeiro analise estas quatro situações e veja em qual caso você se encaixa.

1. Eu ainda não me formei e não tenho experiência.
2. Eu acabei de me formar e não tenho experiência.
3. Eu acabei de me formar, já tenho alguma experiência, mas não é suficiente.
4. Eu já me formei, já adquiri experiência, mas não sei se estou no caminho certo.

Nos dois primeiros casos, o grande vilão é a falta de experiência:

Você é realmente cru e o mercado do primeiro emprego já exige experiência.

Oi? Parece que não faz sentido. Como ter experiência antes do primeiro emprego? E como sair dessa?

Não tem muito segredo, para ter experiência é preciso fazer algo. Levantar a bunda da cadeira, se virar nos trinta, trabalhar dia e noite e por aí vai. A internet está cheia de dicas assim, para você se mexer e conseguir experiências.

É hora de agir.

Você é cru, mas precisa de um currículo hoje para tentar aquela vaga que abriu ontem, tem algum jeito?

Vamos ser realistas: a rapadura é doce, mas não é mole, não. Você já não foi atrás de outras experiências, ou de adquirir novos conhecimentos (nunca é tarde para começar) e está enfrentando uma situação delicada: arrumar um emprego pra ontem, e sem ter experiência. Neste caso, o que colocar no currículo?

O primeiro ponto é você ter certeza de que não tem experiência. Talvez você ainda não tenha as hard skills necessárias, mas pode já ter alguma soft skill aí debaixo da manga.

Hard Skills x Soft Skills

Antigamente o currículo era definido por uma série de conhecimento e habilidades profissionais. Os pontos mais importantes eram a nossa formação acadêmica e os cursos complementares que nos capacitam para tais e tais áreas de trabalho. Vamos chamar essas competências específicas de Hard Skills.

Hoje é diferente. O mercado de trabalho tem percebido que os profissionais são mais do que os conhecimentos específicos que eles possuem, sendo necessário nós desenvolvermos outras capacidades, como a de nos relacionarmos com as pessoas, a de sermos criativos, de resolvermos problemas e por aí vai. Vamos chamar essas competências de Soft Skills.

Análise da situação: não tenho hard skills, será que tenho soft skills?

Vamos para a análise da situação:

Neste momento você ainda não possui certificados e diplomas que comprovem você ter hards skills, ou porque você não terminou sua formação ou porque você ainda não fez cursos complementares.

Mas… será que você não tem soft skills? Que tal você dar uma examinada naquilo que você já fez, nos caminhos que você já percorreu, e não importa se você tem 15 ou 30 anos, todo mundo já trilhou um caminho. Ninguém passa pela vida sem passar por experiências e sem deixar marcas.

As softs skills que existem dentro da gente

Neste caso, a dica é você vasculhar as softs skills que existem dentro de você.

Pensa comigo: por mais jovem que alguém seja, esta pessoa passou por algumas situações, algumas experiências na vida.

Coisas aconteceram quando a gente esteve na escola, por exemplo. Você já foi monitor de turma na escola? Já foi capitão de time? Liderança é um tipo de soft skill. São experiências. E se a gente tem dificuldade de criar o currículo para o primeiro emprego, fica aí a dica. Outro exemplo é a prática esportiva. No esporte a gente tem que tomar decisões e de forma rápida, eu passo a bola para o amigo da direita ou para o amigo da esquerda? A capacidade de resolver problemas é uma soft skill. Taí outra dica.

Faça uma lista

Vai lá, pegue um papel e uma caneta, vamos fazer um exercício. Com o papel e caneta, crie uma lista com todas as atividades que você já fez na vida, e que você lembra. Depois tente detalhar seu comportamento e seus aprendizados durante estas atividades.

Você pode dizer da escola, da faculdade, se você tem filhos, do dia em que você teve que escolher entre isto ou aquilo, se você faz esportes, teatro, alguma outra atividade, se você já trabalhou, se fez bicos.

Importante é refletir o que você desenvolveu em cada uma dessas atividades. No esporte coletivo, a gente desenvolve colaboração. Nas aulas de música, saber ouvir. São grandes as chances de você encontrar alguma experiência interessante e que vale a pena para seu currículo, não apenas para o primeiro emprego, mas para sua atividade e evolução profissional.

Listei tudo e não achei nada.

A maior dificuldade que você poderá encontrar é ter listado tudo, tin-tin por tin-tin, e não ter encontrado nada. Bom, aqui você tem um problema que precisa ser resolvido o mais rápido possível. Tente conversar com as pessoas que estão perto de você, talvez elas possam ajudar mostrando caminhos que você ainda não pensou. Não encontrou nada mesmo? Respire fundo e bora resolver isso, você vai ter que se mexer.  

Criando novos caminhos

Uma solução é você se envolver em diversas atividades para adquirir diferentes soft skills. Digo de atividades extracurriculares mesmo.

Outra solução seria você fazer cursos livres (online ou presenciais) para adquirir os conhecimentos específicos da sua área (hard skill) ou fazer alguma oficina (online ou presencial) que ajude a desenvolver algumas soft skills. Existem muitos cursos de criatividade, por exemplo. E é uma soft skill bastante solicitada pelas empresas.

Então, bora!

E quando temos formação e experiência, mas não parece ser suficiente?

Neste caso, você já tem um caminho andado, o que é muito bom. Mas se não está dando certo, podemos supor duas causas: 1) a formação acadêmica não foi suficiente (e, vamos combinar, nenhuma formação acadêmica é suficiente por si só); ou (2) nossa experiência ainda não é suficiente (você tem pouca experiência profissional, pouco tempo de experiência ou tem experiência em outra área).

Só a graduação não basta.

Atualmente as profissões são dinâmicas, mudam constantemente e a graduação não dá conta de tudo. Nunca dará. O conhecimento muda tão rápido que o jeito é a gente seguir nosso caminho no estilo “Lifelong Learners”, que são aquelas pessoas que passam a vida aprendendo e adquirindo novos conhecimentos. É isso aí, a busca por conhecimentos é pra vida toda. Ruim, mesmo, é ficar parado no mesmo lugar, já disse aí em cima.

Identificando conhecimentos, competências e habilidades.

• Exercício: A dica é você identificar os diferentes conhecimentos na sua área de atuação (e em atividades correlatas). Depois de identificados, crie uma tabela. De um lado tente listar todos os conhecimentos exigidos por sua profissão. Do outro lado escreva em que momento você adquiriu este conhecimento. O legal de fazer isso é que você pode trazer para a consciência conhecimentos que você já tem e aquele que você precisa correr atrás.

• Dificuldade: Muitos conhecimentos em branco. Não deixe em branco aqueles conhecimentos que você ainda não possui, escreva como e onde você poderá adquiri-los. Assim ficará mais fácil você planejar seus próximos passos.

• Solução: estabeleça um plano de como e onde adquirir novos conhecimentos. Coloque este plano em prática.

Ter experiência em uma só função não basta.

Hoje os trabalhos são multitarefas. São dinâmicos e, com tanta coisa acontecendo, se a gente adquire experiência em apenas uma função, parece que não estamos preparados para o mercado de trabalho. E não estamos mesmo. A questão é que, quando estamos no começo da nossa carreira, ainda não tivemos tempo de experimentarmos várias funções.  

Dica para o currículo: identificar diferentes competências e habilidades na sua área de atuação. Será que você não está comendo alguma bola aqui? Você realmente colocou todas as suas habilidades e competências no seu currículo? Vale dar uma revisitada nas suas experiências profissionais para verificar se você não está deixando passar algo, alguma função que você desempenhou e que passou despercebida.

Identificando conhecimentos, competências e habilidades.

• Exercício: faça uma tabela (ou use a tabela do exercício anterior). De um lado tente listar todas as competências e conhecimentos exigidos por sua profissão. Do outro lado escreva em que momento você adquiriu este conhecimento ou competência. Identificou alguma que tinha passado despercebida?

• Dificuldade: Mutas habilidades e competências ficaram em branco. Não deixe em branco. Escreva como você poderá adquiri-las.

• Solução: estabeleça um plano de como e onde adquirir novas habilidades e competências. Coloque este plano em prática.

Eu já me formei, já adquiri experiência, mas não sei se estou no caminho certo.

Dá aquele friozinho na barriga quando a gente está percorrendo um caminho que não sabe ao certo. E, vamos combinar, o mercado de trabalho coexiste num sistema de caos. Nesta semana se exige competências x,y,z, quando na semana seguinte as exigências serão outras. É um mundo volátil.

E, neste mundo em constante mudança parece loucura a gente traçar um caminho reto. Haverá muitas curvas no meio do caminho.

Vou me repetir aqui, porque a ideia de sermos “Lifelong Learners” faz sentido aqui também. É que se a gente não sabe o caminho, se a gente tem dúvidas, o jeito é a gente se informar mais, aprender mais, estudar mais para começarmos a termos algumas certezas.

No mundo dos cursos online existem muitos cursos introdutórios sobre diversos assuntos. Esta pode ser uma dica para a gente começar a se achar.

Fazer uma busca por diferentes experiências também pode ser interessante.

Em resumo: o nosso currículo reflete quem somos. Reflete, portanto, as nossas escolhas e as nossas ações. E, aqui, vale a máxima: nunca é tarde para começar.

Importante, tanto para a nossa vida, quanto para o nosso currículo, é o fazer. É o ir para a ação. É criar experiências, sempre. É adquirir conhecimentos, sempre.

Então bora fazer este esforço.

Um abraço e até mais.

Fernanda.